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terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Cidade Maldita

Ser roubado já é muita sacanagem, mas às 5 da tarde no meio de uma avenida movimentada por três molequinhos atrás de uns trocados pra entupir o nariz de cola, no mínimo é absurdo. Não poderia perder minha carteira com 38 Reais, alguns telefones e identidade, corri atrás dos três ladrãozinhos, acho que mais de 30 km, estava apto pra conseguir um ouro nas olimpíadas. Alcancei os bandidos e chutei a perna de um, que pra minha sorte, era o que carregava o meu pertence, o infeliz caiu no chão rolando e se ralando todo no concreto, no meio do sangue e dos gemidos agonizantes, tirei minha carteira da mão no meliante, os outros, simplesmente sumiram. Duas senhoras na casa dos 50 ou 60 presenciaram a cena.

-Ohhh.. Porque fez isso com o bichinho? - perguntou uma das velhas.
-Porque ele é um animal.
-Coitadinho dele, olha, ta todo ensangüentado. Você é um monstro.
-Se fosse sua bolsa, não estaria falando isso. Essa criança de merda que é o monstro.
-Vou chamar a policia.
-Pra me prender?
-É.
-Olha senhora, com todo respeito, vai tomar no seu cu.
-Quê?
-Vai tomar no seu cu e não me encha o saco!

Sai à procura de uma cerveja. As pessoas foram se juntando pra ver o delinqüente desmaiado e discutir como eu era um filho da puta, uma gorda me defendia aos berros, que de longe pude escutar, mas estou pouco me fudendo pra assuntos triviais como esse. Adentrei em um bar, o cheiro que saia do banheiro dava pra sentir antes mesmo de sentar no balcão e ser ignorado pelo balconista negro e filho da puta.

-Ei.. não me viu sentado aqui não?
-Ah. Perdoe-me, não te vi ai sentado, o que você quer?
-Uma cerveja, por favor.
-Pode me mostrar sua identidade?
-Quê?!
-A identidade, por favor.
-Quando eu era menor de idade ninguém me pedia a identidade, olha pra minha cara! Você ta de sacanagem, né? Tenho cara de criança? Me da uma cerveja, skol, em lata mesmo.
-Olha, não podemos vender bebidas para menores.
-Foda-se então. Ver aqui minha identidade.
-1989, é, já pode beber.

Abriu o freezer e trouxe uma garrafa de Brahma.

-Sabe o que você faz com essa garrafa? Enfia no meio do cu.

Levantei e andei em direção a rua, um dos clientes se pronunciou.

-Não precisa ser tão grosseiro, garoto.
-Se você está incomodado, levante-se e resolva o problema.

Permaneceu sentado, dei as costas e continuei seguindo até ultrapassar a porta e estar oficialmente fora daquele amplo de idiotas filhos da puta.
Um carro passou devagar pela porta do bar, deu ré e parou na minha frente, devido à película de fumê que cobria o vidro, não pude identificar quem estava dentro, pensei que poderia ser algum retardado querendo informação, mas pra minha sorte era outro tipo de gente. O motorista foi abrindo o vidro bem devagar, primeiro, pude ver seus cabelos que não me pareciam peculiares, quando vi os olhos, vermelhos de cachaça e ódio, me dei conta de quem estava a pilotar.

-Rios, tem um cigarro ai?
-Pra você, tenho até dois.
-Então, entra no carro!
-Que isso? Seqüestro?
-Entra logo, porra!

Entrei. Tinha mais dois lá dentro, ou seja, Felipe e André, ambos grandes companheiros de noites que poderiam ser solitárias, o motorista, Márcio, também um velho amigo.

-Então, senhores, pra onde estamos indo? – perguntei.
-Estamos passeando – respondeu o André.
-Ah.

Acendi um cigarro e abri o vidro, o carro nem era equipado com ar-condicionado e a merda da janela fechada, odeio ficar respirando o mesmo ar dos outros, pior mesmo era o calor.

-Rios, olha pro banco. – Falou o Márcio.
-Estou vendo, parece um queijo suíço.
-Sim, por causa de uns retardados que fumaram ai no banco de trás.
-Que sacanagem.

Continuei fumando, se eu não sou retardado, então, eu posso fumar. Márcio parou o carro no encostamento e começou a falar em um tom agressivo.

-Não pode fumar dentro do carro!
-Não precisa falar assim comigo, cara.
-Me desculpe, estou estressado pra caralho hoje.
-Acontece.

Joguei o cigarro fora, o carro voltou a fazer parte do trafego e um longo e inquietante silêncio tomou conta dos quatro rapazes dentro do calhambeque prata.

-Então, Márcio, qual a merda que ta rolando. – perguntei.
-Fui multado.
-Por quê?
-Porque eu ultrapassei um sinal vermelho às duas da manhã. Foi mal mesmo, Rios, além dessa merda, ainda existe várias outras pequenas merdas que quando somadas fodem com o juízo de qualquer um.
-Meu dia hoje também não foi bom.
-Essa cidade não presta.
-Não mesmo.
-Vamos pra outra.
-Quê?
-Vamos pra outra.
-Pra outra?
-Sim! Não me faça repetir.

Concordei, os outros também concordaram e ainda estavam animados, principalmente o André que no seu estado normal, sempre está, em uma estúpida alegria digna de ser invejada por qualquer membro da população mundial, menos por mim, odeio esse tipo de gente.

-Qual cidade? - perguntei
-Qualquer uma, tanto faz. Felipe, da uma dose pro garoto.

Felipe, tirou de debaixo do banco do carona uma garrafa de wisky, não qualquer wisky, era um Black Label, fazia tempos que não sentia esse liquido descer pela garganta.

-Pega ai, Rios
-Felipe, eu te amo!

Abri a garrafa e dei duas goladas.

-Vou te contar um segredo, Rios, ainda tem mais 3 garrafas dessa intocadas aqui.
-Caras, eu amo vocês!
-Rios, acende seu cigarro, se queimar meu banco, eu te ranco essa sua cabeça ai. – Falou Márcio em um tom descontraído e alegre.
-Nossinhora! Eu amo vocês demais.

A viajem demorou tanto que cabei dormindo, sempre é a mesma coisa, se eu passar mais que uma hora dentro de um automóvel, é certo de o sono me dominar. Quando acordei já eram duas da manhã e o carro ainda estava se movendo.

-Ei, onde estamos? – perguntei.
-Estamos perto. – Respondeu Márcio.
-Perto da onde?
-Perto do fim do mundo.
-Deixa de onda porra.
-Cacete, tanto faz.
-Tanto faz o quê?
-Tanto faz o nome do lugar. Já estamos chegando, apenas relaxe.
-Ta.

Finalmente chegamos a tal cidade, na entrada havia somente uma placa que continha escrito “Bem Vindo”. Paramos o carro na frente do único lugar que ainda estava aberto, aparentava ser uma boate. Desci do veículo, estiquei as pernas e Felipe me avisou:

-Essa cidade é do demônio.
-Não existe cidade do demônio.
-Essa é.
-E o que tem demais nessa cidade?
-Não reparou que é a única cidade pequena que não tem uma igreja na praça?
-Então, deve ter uma igreja em outro lugar, ou sei lá.
-Você que sabe, estou te avisando, essa cidade é do demônio.
-Só porque não tem uma igreja na praça?
-Não é só por causa disso, tudo é estranho. Ah. Você vai ver que daqui a pouco vai acontecer merda, no mínimo, com influencia demoníacas.
-Larga de ser doido, essas coisas não existem.

Duas putas vieram nos cumprimentar, ainda no lado de fora do estabelecimento, o porteiro, negro e com meia tonelada de músculos olha, fazendo uma análise completa dos quatro forasteiros que acabam de chegar.

-Aqui dentro as putas são melhores. – adverte o porteiro.
-Tá, então vamos entrar. – Falou Márcio.

O Negro me segurou pela camisa com tanta força que quase morro estrangulado.

-O que significa isso? – perguntei.
-Identidade, por favor.
-Não precisa me estrangular pra pedir identidade. Sou maior de idade.
-Então mostra a identidade.
-Vem cá, tenho cara de quantos anos?
-14 ou 15.
-Você é um mentiroso.
-Mostra logo a identidade.
-Não vou mostrar não. Tenho cara de quase 30.
-Não tem não.
-Cacete.

Tirei a identidade da carteira estava a ponto de esfrega-la na cara do filho da puta, mas não sou nenhum burro, embora eu tenha 1,75 de altura, ele é o dobro do meu tamanho, pelo menos sentado era do mesmo nível.

-1989, é, já pode fuder.
-Ah. Vai pedir identidade dos outros não?
-Não. Eles tem cara de quase 30.
-Foda-se.
-Quê?!
-Nada não.

Finalmente entramos na boate, no momento em que demos os primeiros passos antes de sentar em uma mesa a musica parou, as putas pararam de dançar e todos começaram a olhar para nós.

-Fudeu? – perguntei assustado.

Antes que alguém pudesse responder, as putas se puseram a dançar, os fregueses voltaram a beber e passar a mão nas bucetas alheias e a musica a tocar, mas não a mesma, era Tchaikovsky agora.

-Eu te disse Rios. Esse lugar é do cão. – Falou baixinho em meu ouvido.
-Vai à merda, Felipe. Vamos sentar na mesa ali. – fui andando até a mesa.
-Rios, você já ouviu uma boate cheia de putas tocar Tchaikovsky?
-Não, mas se eu tivesse uma, tocaria Beethovem.
-E você viu que todos pararam de curtir e trabalhar só pra olhar nós quatro entrando? Até a musica parou.
-Sei lá, esse povo de interior é tudo maluco mesmo.

Era um sofá redondo com uma mesa no meio, um dos assentos era tipo uma porta, se tivesse alguém sentado ali e abrissem a “porta” o infeliz que estivesse sentado estabacaria a cara no chão. Sentamos e acendi um cigarro. A musica era boa, as putas eram boas, tirando o pequeno caso inexplicável, tudo estava perfeito.

-André, escolhe uma puta dessas pra levar. – Falou Márcio.
-Tá.

André se levantou e sumiu no meio da multidão. Uma das putas dançarinas pulou pra dentro de nosso circulo acolchoado.

-E então putões, querem uma dança.
-Se for de graça, eu quero. – Falei.

Ficou de pé em cima da mesa e se pôs a dançar rebolando e descendo até esfregar a tabaca na minha cara, puxei sua calcinha rosa e fio dental pondo-lhe uma nota de 1 real. A puta pulou no meu colo, esfregou sua buceta no meu pau, esfregou os peitos no meu rosto e esfregou as mãos por todo meu corpo, parecia uma macaca.

-Cansei dessa esfregação, como é pra eu meter em você?
-150.
-Ah, então vai se esfregar em outro.
-Que pena gatão, queria foder com você.
-Uma foda por 150 Reais, você realmente quer foder comigo.
-Deixa eu te contar um segredo, se o chefe não estivesse de olho, eu foderia aqui mesmo, de graça.
-Ah, que merda, né?
-É.

Levantou e foi embora

-A puta só dança pro Rios. – Falou Márcio indignado.
-Tô falando que essa cidade é do demônio... – Felipe, voltando a encher o saco com esse assunto.
-Cacete Felipe! para de ser maluco. – Falei.

André apareceu de mãos dadas com uma puta que parecia ter 16 ou 17 anos, 1,55 de altura e no máximo 40 quilos.

-Escolhi essa aqui, faz 50 reais pra nós quatro.
-E agente precisa alimenta-la também? – Perguntei.
-Como assim? – Peguntou a puta magrela.
-Você é muito magra, tem certeza que é 50 mesmo? Muito cara.
-Menino, você é ridículo.
-Ei, eu sou seu cliente, me trate com respeito, sua vaca.

Apareceu um cara grandão, com um certo volume tapado pela camisa.

-Algum problema ai? – perguntou o homem.
-Não, vou levar essa mesmo.
-Essa ai é de qualidade.
-Tou vendo, é mesmo.
-Nível internacional.
-Que bom.

O cara foi embora, provavelmente, cuidar dos negócios de outra garota e a nossa puta deu um grande sorriso sacana.

-Ta rindo do quê? Vou te foder tanto que você não vai conseguir andar por 2 semanas.
-Sei..
-Sabe nada.

Levantamos, saímos do puteiro e entramos no calhambeque, seguimos até um lugar que parecia um motel, pelo menos tinha uma placa escrito “Love Motel”. No balcão, outro negro monstruoso, esse era o maior de todos que eu já havia visto.

-Quanto é um quarto? – Perguntei.
-25.
-Ok.
-Identidade, Por Favor.
-Ei, ta vendo essa puta ai? Eu tive que mostrar a identidade pra entrar naquele puteiro fedido.
-O único puteiro da cidade é o meu. Ta dizendo que ele é fedido?
-Olha, eu só quero fuder, nada mais.
-Então mostra a identidade.
-Puta merda! vou ter que andar com a identidade grudada na testa.
-1989, é, já pode fuder.
-Ei, mas eu não te mostrei a identidade ainda.
-Quarto 12, pega a chave.
-Caralho, como você sabe que é 1989?!

Permaneceu calado.

-Rios, não discute. – disse Márcio.
-Essa cidade é do dem..
-CALA BOCA PORRA! – gritei! –Tô ficando puto já! Vamos foder essa puta e dar o fora daqui.

Entramos no quarto 12, era um quarto normal, uma geladeira, um banheiro e uma cama macia e grande. A puta despiu-se e deitou na cama com as pernas abertas.

-Você primeiro, Rios. – Falou a puta.
-Não é você quem decide isso, mas vou primeiro mesmo.

Tirei minha roupa, montei na puta, comecei a meter e sangue escorreu da buceta.

-Puta que pariu! Você é virgem?!
-Era.
-Uma puta virgem?!

Levantei assustado.

-ESSA PUTA É VIRGEM!

Estavam os três parados na janela.

-EI!! Estão me ouvindo?!
-Rios, cala boca e olha aqui na janela, essa cidade é do demo.

Fui até a janela, a cidade toda estava acordada com tochas de fogo na mão, parecia uma cena de filme.

-Fudeu? – Perguntou Márcio.
-Sim, ela é virgem!
-Não animal, to falando, que fudeu! Olha só quanta gente com tocha na mão!!
-Ah, vamos dar o fora daqui! – propôs Felipe.

A puta se levantou e bateu em minha cabeça com uma barra de ferro que não sei da onde ela tirou, talvez da buceta. Desmaiei.

-Rios!! Rioss!!!! Riooos!!! – Gritava André enquanto Márcio esbofeteava minha cara.
-Acho que ele está morto! – Falou Felipe.

Acordei, estava sentado no banco de trás do calhambeque.

-Aonde nós estamos?
-Chegamos!

Abri a porta do carro e acendi um cigarro.
-Puta merda, que sonho filho da puta.
-Ei Rios..
-Diga Felipe.
-Você não acha que essa cidade é meio estranha? Nem tem uma igreja na praça como qualquer outra cidade normal.
-SERIO?!
-Sim!

Olhei pra trás, lá estava o puteiro, dava pra ouvir Tchaikovsky vindo de dentro.

-Tchaikovsky?! – perguntei.
-É, esse puteiro é famoso por tocar só música clássica. – Respondeu Márcio.
-Que se foda, vamo dar o fora daqui, essa cidade é do demônio!
-Essa cidade é do demônio mesmo. – Reforçou Felipe.
-Larguem de viadagem ai vocês dois, esperem no carro que eu e André vamos trazer uma buceta.
-Não entra ai Márcio!!! – Falei em um tom desesperado.
-Já volto.

Ficamos no carro, minha mão tremia, minha espinha congelava e Felipe não parava de repetir “Essa cidade é do demônio”. 10 minutos se passaram e quando eu já perdia as esperanças de permanecer vivo, Márcio sai correndo de dentro do puteiro.

-ENTRA NO CARRO PORRA!!

Entramos no carro, Márcio correu mais rápido que um carro de Formula 1, pegamos a estrada e quando o transtorno passou perguntei:

-Ei, cadê o andré?!
-Se fodeu!se fodeu! – Respondeu Márcio.

Mais adiante a estrada estava fechada por cerca de 20 mil pessoas com tochas e tridentes na mão. Cercaram o carro, quebraram os vidros e lá no meio da multidão, estava a puta virgem com uma barra de ferro, desceu novamente aquela merda em minha cabeça e eu desmaiei.

-Riosss!! Rioooos!! Rioooos!!
-Oque você quer, mulher?
-Quero que você pare de escrever essas merdas e venha pra cama.
-Tá.
-Compra um vinho antes.
-Não, depois eu compro.

Levantei da cadeira e deitei-me na cama, dei duas fodas com Priscila, a garota mais linda de salvador e dormi.

3 comentários:

  1. Otimo esse tão bom qt o primerio, os dialogos são perfeitos!!!! o final eh louco mais eu gostei!!!

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  2. Com certeza os finais são os melhores que já vi!

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